O Espetacular Homem-Aranha:
a melhor adaptação do herói no cinema
Com
drama, humor e efeitos especiais de tirar o fôlego, longa honra o icônico e
mais adorado personagem da Marvel.
Em
2005, depois de ter assistido – mais de uma vez – à todas as adaptações de
Batman para o cinema, deixei a esperança em casa e fui ao cinema ver “Batman
Begins”, retomada do herói pelo diretor Christopher Nolan. Lembro-me, como
se fosse hoje, quando o homem-morcego pula em cima do carro de Carmine Falcone
(Tom Wilkinson) e arranca o mafioso pelo teto, dizendo: “Eu sou o
Batman”. Não havia dúvidas, pelo menos para mim, que eu havia encontrado em
Christian Bale o mais próximo que uma pessoa real chegaria em verossimilhança
com Bruce Wayne.
Sei
que o leitor deve estar com a testa franzida, perguntando o porquê de eu estar
escrevendo sobre um personagem da DC Comics ao invés de dar minha
opinião sobre “O Espetacular Homem-Aranha”, quarto filme do herói da Marvel que
chega aos cinemas no dia 06 de julho. Aí que está a questão: não precisei
esperar muitos minutos para ter a certeza que estava diante da mais crível
versão em carne e osso de Peter Parker, o garoto debaixo do collant do
aracnídeo. E boa parcela de culpa nisso pertence a Andrew Garfield (“Não Me
Abandone Jamais”).
Após
três longas protagonizados por Tobey Maguire e dirigidos por Sam Raimi em 2002,
2004 e 2007, o puro entretenimento do personagem com o carisma do ator, a
beleza de Kirsten Dunst e a dedicação de Raimi (fã confesso dos quadrinhos
criados por Stan Lee na década de 60) não foram suficientes para mim, que
acompanhei os quadrinhos durante alguns anos. Faltava – ou sobrava – algo que
incomodava e nem eu mesmo sabia direito responder o que era. A resposta viria
cinco anos depois. E eu estive na primeira exibição do filme no Brasil,
que aconteceu em São Paulo .
Nesta
nova aventura, o diretor Marc Webb (“500 Dias com Ela”) tomou as
rédeas de um filme já consolidado na cultura mundial e, por sorte e decisão dos
estúdios, não teve de carregar uma continuação, mas contar os anos anteriores
da vida de Peter Parker (Garfield) que, ainda criança, é deixado pelos pais aos
cuidados dos tios Ben (Martin Sheen, ótimo) e May (Sally Field). Nerd, franzino
e motivo de piada no colégio, ele esconde uma paixão platônica por Gwen Stacy
(Emma Stone) enquanto sofre com o grandalhão Flash (Chris Zylka).
Até
aí, nada de novo com relação aos outros filmes (exceto a troca do par
romântico, na qual sai Mary Jane para dar lugar à Gwen Stacy). O roteiro,
escrito a seis mãos por James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves, foca na
busca do órfão Peter sobre o segredo envolvendo seu pai e da jornada que surge
a partir daí. As pistas o levam até o dr. Curt Connors (Rhys Ifans) e as
pesquisas que ambos faziam para unir material genético de espécies diferentes
para experiências em laboratório. Sem um braço, Connors sonha com a junção da
capacidade dos répteis em regenerar membros amputados e, assim, ter um corpo
perfeito. É a porta de entrada para a criação do vilão Lagarto, que dará muito trabalho
ao super-herói.
Com
um roteiro extremamente bem amarrado e um ritmo que jamais perde o vigor,
acompanhamos o nascimento do Homem-Aranha, personificado com incrível
semelhança física por Garfield, do jeito esguio e franzino à ironia que as
páginas dos quadrinhos tanto destacam (e havia ficado de fora nos outros três
filmes). Além disso, “O Espetacular Homem-Aranha” consegue unir humor, drama e
cenas de ação que não decepcionarão os fãs, sejam eles novatos ou veteranos.
Entre tantos momentos impressionantes, detalhe para a tradicional aparição de
Stan Lee, em uma cena para lá de impagável.
Da
bela fotografia (com o uso de cores que casam com seus personagens) a planos de
câmera inteligentes (como a cena de Connors diante da própria imagem refletida
no vidro), o filme prima pelas cenas de ação de tirar o fôlego, oferecendo
situações dinâmicas e divertidas da rotina do agora herói adolescente. Afinal,
já se tornaram inesquecíveis a cena em que ele usa os poderes pela primeira vez
e seu confronto com um fora da lei já usando as teias que, diga-se de passagem,
são bem mais interessantes fabricadas artificialmente como nos quadrinhos do
que produzidas pelo próprio organismo de Parker. Mais um ponto para a nova
aventura.
Em
sua humanização, ficamos diante de um Peter Parker que, consumido pela culpa da
perda das pessoas que mais ama, encontra na figura de tia May, Gwen e dr.
Connors as partes que lhe faltam quando se trata de família. Até mesmo a
proximidade com o capitão George Stacy (Denis Leary), pai de Gwen, é bem
aproveitada ao colocar os dois lados da lei frente a frente.
A
imponente trilha de James Horner, embora traga fortes resquícios de suas
composições para “Titanic”, ajuda a criar momentos de emoção e tensão.
Com cenas de luta indiscutivelmente mais violentas e um realismo impecável nas
acrobacias do personagem pelos arranha-céus da cidade (favorecidos, também,
pela evolução da tecnologia de efeitos especiais), “O Espetacular Homem-Aranha”
nos coloca, até mesmo, dentro da excitante perspectiva visual do herói.
Apesar
de um final que peca pelo excesso no mais descarado clichê “unidos venceremos”
aliado à redenção e ao patriotismo norte-americano, o longa de Marc Webb não
perde o fôlego e consolida-se como – arrisco-me a dizer – a melhor adaptação
para o cinema que um personagem da Marvel já teve até hoje. E os fãs
podem, finalmente, respirar aliviados.
Dica:
não saia da sala antes do fim dos créditos. O gosto de quero-mais ficará ainda
mais aguçado.
Léo Freitas
twitter.com/LeoGFreitas
____
Léo Freitas formou-se em Jornalismo em 2008 pela Universidade
Anhembi Morumbi. Cinéfilo desde a adolescência e apaixonado por cinema europeu,
escreve sobre cinema desde 2009. Atualmente é correspondente do CCR em São
Paulo e desejaria que o dia tivesse 72 horas para consumir tudo que a capital
paulista oferece culturalmente.