Crítica|
Rogério
de Moraes
A
franquia A Era do Gelo foi responsável por catapultar a carreira do
brasileiro Carlos Saldanha. Codiretor do primeiro filme e diretor dos dois
seguintes, o sucesso no comando das animações permitiu a Saldanha a
oportunidade de tocar um projeto pessoal que resultou em Rio, animação escrita
e dirigida por ele e ambientada no Rio de Janeiro.
Agora,
no quarto filme, Saldanha não está mais no comando, que ficou a cargo da dupla
Steve Martino e Mike Thurmeier. A mudança parece não ter afetado a qualidade
que os filmes mantêm desde o primeiro episódio. Um caso raro de positiva
regularidade ao longo de quatro filmes, todos muito bons.
Em
A Era do Gelo 4 reencontramos o improvável bando formado pelo mamute
Manny (Ray Romano/Diogo Vilela), o tigre dente-de-sabre Diego (Denis
Leary/Márcio Garcia) e a desastrada preguiça Sid (John Leguizamo/Tadeu Mello).
E como nos filmes anteriores, a questão da família e do pertencimento a um
grupo ocupa o motivo central do filme.
No
começo da aventura Manny e sua esposa Ellie (Queen Latifah/Cláudia Jimenez)
estão enfrentando os típicos problemas de ter uma filha adolescente. Como toda
jovem de sua idade, a garota quer liberdade, mas seu pai não lhe dá uma folga e
os conflitos se agravam. Ainda na questão familiar, surgem rapidamente na
história os pais de Sid, que, antes de darem no pé novamente, deixam a seus
cuidados a avó caduca e encrenqueira.
Tudo
piora quando terremotos causados pelos deslocamentos continentais do planeta
fazem com que os animais tenham que fugir para outro lugar. No tumulto, Sid,
Manny, Diego e a vovó preguiça acabam à deriva no mar sobre uma placa de gelo.
Mas logo serão encontrados por um “iceberg pirata”, cujo cruel comandante fará
de tudo para que se unam ao grupo ou morram, caso se recusem.
Pode-se
dizer que A Era do Gelo é uma franquia de “animação de estrada”, algo
como um road movie da era glacial. Isso porque em todos os filmes os
animais estão sempre se movendo de um lugar a outro. Esse deslocamento
constante contribui para que a aventura dos personagens tenha sempre algo de
épico, o que confere emoção à narrativa e uma dimensão grandiosa. Contribui
para isso a técnica impecável utilizada em todos os filmes, de texturas
detalhadas e profundidade bem acabada, seja com ou sem o 3D o trabalho
impressiona.
Nas
travessias pelas quais passam, a lealdade entre amigos é a argamassa que une os
personagens e faz com que a aventura funcione bem. Neste filme, o tom épico da
viagem faz até brincadeira com a Odisseia, de Homero, como se o mamute Manny
fosse uma espécie de Ulisses tentando retornar para sua esposa e filha, com
direito a sereias e monstros marinhos pelo caminho.
Como
animação, A Era do Gelo 4 – e também os anteriores – seduz e envolve
pela dose certa de piada e drama. Seus personagens, com exceção da preguiça Sid
e de alguns outros personagens periféricos, não são figuras estúpidas e tolas.
São criaturas com personalidade, com uma boa história pregressa e uma pitada de
drama convincente.
Claro
que se trata de uma animação infantil, com toda fantasia que cabe no gênero,
mas não é uma diversão abobalhada com piadas a todo custo. É, acima de tudo,
equilibrada e sensata na construção tanto da aventura quanto de seus
personagens. Um equilíbrio inteligente entre ação, aventura, narrativa e
personagens, com espaço para todos na medida certa. O suficiente para fazer do
filme uma diversão emocionante e engraçada.
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