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terça-feira, 26 de junho de 2012

Sombras da Noite - Crítica

Crítica | Sombras da Noite

De Bruno Carmelo


É muito curioso que este novo filme de Tim Burton tenha sido tão criticado. "O roteiro tem furos", "Vampiros não deveriam sair no sol" e "A história transita entre muitos gêneros, mas não se aprofunda em nenhum deles" foram apenas algumas das afirmações lidas na imprensa. Ora, esta parece ser justamente a época em que o cinema mais reinventou a figura romântica e erótica do vampiro, enquanto a noção de gênero nunca foi tão híbrida. Alguém ainda critica Quentin Tarantino pela colagem de gêneros?

 
Esta reação conservadora mostra que tanto os críticos quanto o público – que recebeu de maneira morna esta produção – esperavam algo muito diferente. Para uma trama sobre monstros, vampiros e lobisomens, Sombras da Noite traz provavelmente a abordagem menos espetacular possível. Como a série que deu origem a esta história, a grande maioria da narrativa se passa dentro da mansão original, com o humor sendo destilado apenas em diálogos.
O universo fantástico e transcendente de Alice no País das Maravilhas desaparece, assim como a pirotecnia de A Fantástica Fábrica de Chocolate. A história lembra muito as peças teatrais farsescas, com personagens voluntariamente estereotipados se afrontando sobre um palco. Ao mesmo tempo em que os efeitos visuais são tradicionais (fantasmas são transparentes e azulados, tesouros são montanhas de metais dourados brilhantes, os anos 70 são representados por globos espelhados), os confrontos são bastante verossímeis: o personagem quer restituir o amor familiar e retomar os negócios de antigamente, com a reativação de fábricas e outros imperativos econômicos realistas.
Neste sentido, vampiros, bruxas e lobisomens não constituem um universo mágico, mas metáforas para os conflitos internos de uma família comum. "Eu sou um lobisomem, OK? Não vamos criar um alarde por causa disso", revela um personagem a certa altura da trama. Estas pessoas não são mais definidas por suas monstruosidades; o caráter sobrenatural vira apenas um traço de seu caráter. "Toda família tem seus monstros", parece dizer o filme.
Tim Burton delicia-se com o anacronismo da história, em camadas diferentes: para Barnabas Collins (Johnny Depp, sempre muito à vontade neste universo), o século XVIII é o passado e os anos 1970 são o novo presente, difícil de compreender, enquanto para o público, estas duas épocas são registros passados, raramente combinados em um mesmo filme. O tom aristocrático e britânico de Barnabas entra em conflito com a atmosfera pós-hippie e colorida da era do disco americana, gerando grande parte do humor desta história.
O elenco se sai muito bem, com destaque para Eva Green, impressionante em vampira carente e sexy. Ela consegue fazer exatamente aquilo que Anne Hathaway não conseguiu em Alice no País das Maravilhas: atuar com o eixo do corpo deslocado, com os braços suspensos, como uma boneca mecânica. Bella Heathcote também é uma boa surpresa, adotando um tom de voz firme e dando um temperamento forte à personagem que poderia se limitar a uma garota bela e frágil. O roteiro é de fato recheado de diversos outros personagens secundários, resumidos a um estereótipo central (a psicanalista bêbada, o ladrão libidinoso, o garoto antissocial, a jovem rebelde), exatamente como no universo das séries de televisão.
Adoro Cinema

Sombras da Noite apresenta uma divertida mistura pop entre épocas, gêneros e formas de cinema, com uma despretensão que era impossível atingir na adaptação das famosas histórias Alice no País das Maravilhas e A Fantástica Fábrica de Chocolate, por exemplo. Esta crônica familiar existe muito além de seu material original e de seus efeitos visuais, com sua pitada sombria de sexo e morte e seu prazer descontrolado na composição das cenas. Este teatro de seres sobrenaturais é ironicamente realista e cotidiano, razão que garantiu tanto a apreciação de alguns espectadores quanto a rejeição de muitos outros.


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